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Conto de todos os cantos: Elisangela Resende



Nascida em Entre Rios de Minas/MG e moradora do bairro Senhora das Brotas, Elisangela Resende borda desde pequena. Profissionalmente, trabalha com artesanato há mais de 18 anos e, a partir deste ofício, pôde sustentar sua família.


Criativa, a artesã desenvolve peças com crochê, fuxico e papel vegetal, realiza pintura em tecido, faz velas decorativas e trabalhos com jornais. Além disso, já foi professora em diferentes projetos sociais da cidade e região.


Confira abaixo a entrevista realizada pela arte-educadora Elis Ferreira com a bordadeira e artesã entrerriana e conheça mais sobre a relação de Elisangela com o ofício. Siga a leitura!


Um dos trabalhos feitos por Elisangela. Créditos: arquivo pessoal

Conte um pouco sobre a sua história com o artesanato.

O artesanato me acompanha desde que nasci. Minha mãe era cozinheira, costureira e bordadeira, e foi ela quem me ensinou a bordar. Comecei ainda pequena, pois ela dizia que uma moça tinha que saber cozinhar, pregar um botão e arrumar direito uma casa.


Além disso, minha madrinha, que era índia, trabalhava como parteira, tecelã e tomava conta das tecelãs de Desterro de Entre Rios/MG. Cresci entre as duas cidades — Entre Rios de Minas e Desterro de Entre Rios —, principalmente na Comunidade do Cerrado, onde sempre estava do lado do tear, aprendendo diferentes técnicas: fiar, urdir, tecer, tingir… Profissionalmente, sou bordadeira há aproximadamente 18 anos.


E como foi esse processo até trabalhar profissionalmente com bordado?

Já trabalhei em estúdio de fotografia, papelaria, floricultura, armarinho e diversos tipos de comércio. Mas, quando tive a minha filha, aos 20 anos, minha mãe falou: “Para de trabalhar nesses lugares, larga o comércio e começa a ganhar dinheiro com o que você sabe, filha”. Foi então que veio o gatilho para eu trabalhar com o artesanato.


Entrei em um projeto pela empresa VSB e dei aulas de arteterapia, junto a psicólogos, em Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) de diversas cidades. As aulas eram para crianças, senhoras e pessoas de diferentes idades, e todas elas estavam passando por situações muito complicadas.


Então, nesse momento, decidi que não queria mais trabalhar com ninguém e passei a me dedicar ao artesanato como profissão. Foi algo muito marcante porque resolvi largar tudo para me dedicar ao artesanato.


Toalhinha personalizada feita por Elisangela. Créditos: arquivo pessoal

Há mais pessoas envolvidas no trabalho?

A minha filha trabalha comigo, me ajuda nas encomendas. Ela também é bordadeira, mas atualmente cursa Engenharia Civil na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).


Hoje em dia, além de trabalhar como artesã, você participa de algum grupo local?

Sim, entrei no Descubra Entre Rios e faço parte do grupo Bordadeiras de Quinta. Neste último projeto, a gente borda os casarões antigos da cidade com muito orgulho. Muitos já foram ou iam ser demolidos e o bordado ajudou o Patrimônio a resgatar suas histórias e a manter as características dos casarões. Então, de uma forma ou de outra, a gente acaba contribuindo e o artesanato transforma a vida de todo mundo!


Encontro das Bordadeiras de Quinta. Créditos: arquivo pessoal

Além do CRAS, você também desenvolveu trabalhos em outros projetos sociais?

Eu frequentava um grupo de hipertensos, diabéticos e depressivos em um dos Programa de Saúde da Família (PSF) da cidade. Na época, eu já fazia flores de papel, tecido e trabalhava com jornal. E como precisavam de alguém que ajudasse as pessoas a se entreterem e a aprender um ofício para ganhar dinheiro, eu fazia esse trabalho voluntário nas PSFs.


Depois, entrei para a associação de moradores do meu bairro e continuei o trabalho das PSFs. Ensinava doninhas a fazerem trabalhos com jornal, papel, bordado, vagonite… Muitas delas não possuíam nenhuma renda além da aposentadoria e gastavam a maior parte com remédios. Mas, com o que aprenderam comigo, passaram a fazer artesanatos e vendê-los.


Inclusive, um tempo atrás encontrei uma das minhas alunas — que infelizmente faleceu logo depois devido a um acidente bobo — e ela disse: “Nossa, tenho muito a te agradecer porque pago os meus remédios, consegui passear e me divertir com o ofício que você me ensinou”. Isso é muito importante para mim, muito gratificante.


Além disso, também fiz trabalhos nas APAEs. A arte cura, transforma, dá possibilidades para que as pessoas consigam o que querem, assim como traz um bem estar muito grande.


Como você se sente ao realizar a sua arte?

Eu me sinto muito feliz e realizada com meu trabalho. Isso porque, além de trabalhar com o que amo, me sustento, sustento meus filhos e ainda posso ajudar as pessoas a se reerguerem e fazer com que elas se conectem com elas mesmas através da arte.


É com muito orgulho que eu falo que sou artesã: essa é a minha profissão. Amo o que eu faço porque vem das minhas raízes, vem da minha história e não tinha como eu fugir para outro lado.

Também amo falar da minha cidade, amo aprender as coisas e amo passar o que eu sei para outras pessoas. Minha mãe falava: “Caixão não tem gaveta e conhecimento não foi feito para levar para debaixo da terra”. Então a gente tem que deixar as sementinhas aqui.



Há alguma situação interessante que você viveu devido ao trabalho com artesanato?

Um dia, quando eu dava aula de bordado em Congonhas, tive que passar na Caixa Econômica para pagar um boleto. Nisso, o segurança pediu para eu tirar tudo que tinha na minha bolsa… Misericórdia!


Eu falei: “Moço, tem certeza que quer que eu tire as coisas da bolsa? Porque você vai achar que eu armada”. E ele falou: “Pode tirar tudo da bolsa porque não passa metal por essa porta”. Então fui tirando tudo da bolsa: tesoura, agulha, estilete e tudo o que você possa pensar que tenha corte.


Pensei que ia ser presa porque ele ia achar que eu estava completamente armada, tirava as coisas, olhava para para o segurança e ele foi levantando a sobrancelha. Em um momento ele falou: “Moça do céu, por que você tem esse tanto de coisa que fura e corta dentro da bolsa?”.


E eu expliquei: “Sou bordadeira, artesã e dou cursos. Minha bolsa vive cheia de tesoura, agulha, estilete etc. Quando o senhor falou para tirar tudo que era metal, eu tirei”. Aí ele deixou eu passar, mas quando passei para dentro do banco, ele disse: “Estilete não podia deixar entrar não, mas...”. Então respondi: “Não se preocupe não, o máximo que eu vou fazer é pregar o botão da sua camisa, que eu vendo que faltando”. (risos)


Acompanhe o trabalho de Elisangela Resende através do Facebook e do Instagram.

 

O Conto de todos os cantos sobre Entre Rios de Minas é patrocinado pela Vallourec via Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Entre Rios e Lei de Incentivo à Cultura.


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