Natural de Entre Rios de Minas/MG, a artesã polivalente Marinês Matias se dedica a diversas técnicas de trabalho manual. Vinda de uma família de dez irmãos, aprendeu a fazer crochê ainda pequena e não parou mais.
Atualmente, vive em São João del-Rei, onde dá continuação ao seu trabalho, e mantém a clientela entrerriana. Curiosa, está sempre aprendendo novas formas de criar e alegrar a casa de seus clientes com peças coloridas.
Conheça um pouco mais sobre o seu ofício a partir da entrevista feita pela arte-educadora Elis Ferreira, do Projeto Arte Por Toda Parte de Entre Rios. Leia abaixo!
Quais atividades você realiza?
São muitas! Vão desde o crochê até a pintura, da restauração aos filtros dos sonhos e mandalas…
Conta um pouquinho da sua história e de como você começou com o trabalho artesanal.
Comecei pelo crochê. Na época, eu tinha dez anos de idade e, como a educação era muito rigorosa, a gente não podia ir para casa de coleguinhas. Então, a minha mãe viu a possibilidade de eu aprender algo para ter uma atividade em casa. E foi a melhor coisa! Pensando nisso, a minha irmã me deu a minha primeira agulha, que eu tenho até hoje. E diga-se de passagem, nunca mais parei.
O crochê é o meu forte, mas também sei fazer tricô e bordar. Além disso, há alguns anos, fiz um curso chamado “bauernmalerei” — um estilo de pintura alemã — e a partir daí também não parei mais.
Hoje em dia, pinto qualquer superfície que a pessoa pede. E, quando eu estou fazendo crochê, tenho sempre um vídeo aberto para ir aprendendo outras coisas. Sou muito curiosa, né?
E você trabalha sozinha ou existe alguém que te ajude?
Eu tinha uma assistente que fazia as bases das pinturas. O nome dela é Michele. Inclusive, tem vídeos em que ela está no meu canal do YouTube. A época em que ela me acompanhava foi a que eu mais fiz artesanato. Porque, quando ela trabalhava comigo, eu conseguia ficar mais na parte de arte. Aí o trabalho rendia.
Os meus clientes me dão liberdade e acho isso incrível. Por exemplo, adoro quando elas falam: “Marinês, faz do seu gosto, eu confio nele”. Assim, posso soltar a criatividade.
Tem alguma história curiosa ou fato marcante que aconteceu durante a sua trajetória?
Nossa, é muita história. Cada peça que eu faço é uma adrenalina diferente, porque a gente quer agradar o cliente, né? Mas teve uma história com uma cliente que eu gosto muito, mas que dava muito pitaco no meu trabalho. No geral, os meus clientes não são assim, mas ela foi. Na época, ela falou: “Marinês, quero uma pátina envelhecida neste oratório”. Eu concordei e afirmei que ficaria lindo, porque adoro pátina.
Eu já tinha tudo planejado na minha cabeça: faço a pátina primeiro, depois vou fazer uma rosas bauer aqui e vai ficar maravilhoso o oratório dela. Só que nesse meio tempo, ela começou a mandar mensagem toda hora, mudou cores, pediu que fosse idêntico a tal cor, etc.
Mas falei pra ela que, no artesanato, não adianta você falar que quer idêntico porque cada mão é diferente, assim como o tom das tintas… Daí você não sabe o que aconteceu!
Mandei uma foto para ela, mas a câmera distorceu a imagem e ela falou:
— “Ai, meu Deus! Eu não queria dessa cor, Marinês”.
— “Não acredito. Eu ia fazer do jeito que você queria, mas você ficou dando pitaco. Mas eu nunca passei por isso dos clientes ficarem dando pitaco no meu trabalho e mandando mensagem pedindo para mudar a cor toda hora...”, disse eu.
— “Não, pode trazer que eu te pago, fica desse jeito mesmo”.
— “De jeito nenhum. Não vou te entregar desse jeito. Vou raspar tudo e perder meu dia inteiro de trabalho, mas você vai gostar do que eu fizer. Só que você não vai dar palpite em cada detalhe”.
Depois disso, voltei a fazer o que tinha pensado no começo e, quando entreguei o oratório, ela ficou super feliz com o resultado. Hoje em dia ela é apaixonada comigo!
Porque é uma coisa de intuição e prática mesmo, né? Se você já tem essa prática…
Exatamente. Você vai entendendo a pessoa, faz como ela gosta. E eu conheço a casa dela, sabia onde que vai estar o oratório, o que combinava e tudo ficou lindo. Mas foi uma coisa consertada, ia ficar maravilhoso mas ficou bonito e ela ficou satisfeita. Isso que importa.
É uma coisa muito interessante que você falou e acredito que seja isso mesmo. A pessoa que procura o artesanato tem que entender que é um trabalho manual, e não um trabalho feito por máquinas.
Exatamente. Tem diferença de tamanho, número.. E não adianta, se a pessoa quer algo padronizado, ela tem que procurar uma máquina para fazer.
Como você se sente ao realizar a sua arte?
Missão cumprida, e deixando legados. Com cada obra que faço, penso: “Vou entrar em mais uma casa e alegrá-la”. E isso traz uma grande satisfação pessoal, de entrar e alegrar a casa de outra pessoa. Porque as pinturas trazem muita cor e alegria aos ambientes.
Acompanhe o trabalho da Marinês Matias através do Instagram e aprenda técnicas de artesanato no seu canal do YouTube.
O Conto de todos os cantos sobre Entre Rios de Minas é patrocinado pela Vallourec via Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Entre Rios e Lei de Incentivo à Cultura.
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