Nascida e criada no Quilombo do Bananal, em Jeceaba/MG, Neuza Martins Pereira é reconhecida pelo seu trabalho como costureira e atua como presidente da Associação de Mulheres Reunidas em Igualdade de A a Z (Amariaz).
Curiosa desde criança, Neuza faz trabalhos utilizando diversas técnicas que aprendeu ao longo da vida e através de cursos. Seu sonho era ser estilista e, por isso, nunca parou de costurar e tem orgulho do seu ofício.
Leia abaixo a entrevista feita com Neuza pelos arte-educadores Ana Malta, Priscila Mathilde e Gustavo Rosário, coordenadores do Projeto Arte Por Toda Parte de Jeceaba!
Como você começou a costurar?
Fiz meu primeiro curso de costura aos 15 anos e, de lá para cá, costurei durante toda a vida. Já fiz cursos da Singer, de lingerie, de trabalho manual em toalhas, entre outros.
Inclusive, no meu casamento, uma colega minha e eu que fizemos os vestidos das damas de honra, da minha mãe, dos meus irmãos e por aí vai… Fiquei costurando por dois meses, até a véspera. Tinha gente que não sabia para quem dava os presentes, se para a noiva ou para as damas de honra, porque elas ficaram parecendo noivas de tão lindas!
Meu sonho era seguir a carreira de estilista, mas aí me casei, tive um filho atrás do outro e não deu... Mas nunca parei de costurar.
Alguém da sua família costurava antes de você?
Minha mãe costurava e posso dizer que puxei isso dela. Além dela, a minha irmã mais velha também costurava para a família e para as filhas. E a minha irmã mais nova gosta muito de tricô, crochê, ponto-cruz e essas coisas.
E algum dos seus filhos costura, Dona Neuza?
Não, ninguém quis enveredar para essa área. Uns trabalham na indústria, outros são engenheiros, uma é técnica em odontologia, ou seja, nenhum seguiu a costura como profissão. As meninas sabem fazer apenas o básico para quando precisam de algo para elas mesmas.
Mas tenho uma neta de 10 anos que gosta de costurar, desenhar e fala que quer ser estilista! Quando estou trabalhando na máquina, ela vai junto, querendo me ajudar.
Como surgiu a Amariaz?
A gente se reunia, ia costurar na casa uma da outra e trocava ideias sobre costura. Como tínhamos colegas que falavam que queriam aprender a costurar, tivemos a ideia de ensiná-las.
Inclusive, muitas aprenderam com a gente, compraram máquinas e fazem trabalhos sob encomenda, consertos para fora e costura para a própria família. Nós já demos aulas com o financiamento da prefeitura e já tivemos cursinhos de tapeçaria, tricô e crochê!
Você tem algum caso engraçado ou importante, envolvendo o seu trabalho, que você gostaria de contar?
Sim, tem o causo do computador! Uma vez a gente ganhou um computador para a Amariaz. Os vereadores doaram uma verba e compraram ele. Nós tiramos foto com o equipamento e tudo.
Aí marcaram para entregar o computador na sede e esse dia nunca chegou. Isso já faz uns três anos! Sempre que lembramos disso, a gente dá risada... Afinal, temos um computador, mas ele sumiu. (risos) Cansamos de cobrar eles por isso, mas acabamos deixando para lá.
Como a senhora se sente por fazer parte da Amariaz?
Fazer parte da Amariaz é muito importante. É muito bom a gente fazer coisas diferentes, ensinar outras pessoas e não ficar só na arrumação de casa. Vamos lá, conversamos, brincamos com as nossas colegas e ocupamos nossas cabeças.
O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).
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