Sorridente, simpática e uma mãe super dedicada, Rosângela Ribeiro trabalhou com artesanato por muitos anos na região de Jeceaba/MG. Devido à sua relação com a produção de peças em palha, ficou conhecida e chegou a dar aulas para outras mulheres a serviço da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater).
Natural da comunidade rural do Mato Dentro, aprendeu a fazer artesanato em palha ainda criança com as mulheres deste local. E, após o nascimento da sua primeira filha, decidiu estudar Pedagogia, pagando o curso com o que recebia enquanto artesã e tornando-se um grande exemplo na cidade.
Abaixo é possível conhecer mais sobre a história de Rosângela e compreender a sua relação com o artesanato. A entrevista foi feita pelos arte-educadores Priscila Mathilde, Ana Malta e Gustavo Rosário. Continue a leitura e saiba mais!
Como surgiu o seu interesse pelo artesanato?
Na comunidade em que vivia, a maioria das pessoas mais antigas fazia artesanato com palha, inclusive a minha mãe. Era uma fonte de renda para as mulheres de lá. Então, quando eu tinha dez anos, quis começar. Aprendi a fazer diferentes peças: flores, bonecas, bolsas… Mas depois, isso foi acabando, sabe?
E você sabe nos dizer por que as pessoas deixaram de produzir?
Quando o progresso começou a chegar nas comunidades, junto à falta de incentivo ao artesanato — as peças não eram valorizadas, não davam muito lucro e faltava um profissionalismo —, as mulheres foram parando de fazer esse trabalho.
Porque a 30 anos atrás, não tinha ônibus para a cidade. Para ir até Jeceaba ou Entre Rios de Minas, que eram as cidades mais próximas, tinha que ir de caminhão ou a cavalo. Então, não tinha como elas saírem. E com a chegada do progresso, elas foram tendo outras oportunidades: de sair para ir fazer uma faxina, para trabalhar no comércio na cidade. Elas passaram a ter outras fontes de renda e foram se esquecendo do artesanato, que ficou em segundo plano. Hoje em dia, se pode contar nos dedos as pessoas que faziam peças em palha e ainda estão vivas.
Além disso, as pessoas foram perdendo o interesse. Elas não conseguem mais ver isso como algo que pode ser um momento de lazer, para sair da rotina, praticar uma coisa que você gosta, criar... Infelizmente, a gente foi perdendo essa cultura do artesanato de palha na comunidade do Mato Dentro.
E hoje em dia, qual é a sua relação com o artesanato?
Particularmente, produzi peças até 2012. Paguei minha faculdade fazendo artesanato. Só que depois de me formar em Pedagogia, comecei a trabalhar na área e acabei parando. Ou seja, atualmente, eu só faço por hobby ou quando alguém encomenda algumas flores, alguma boneca para dar de presente de aniversário, por exemplo.
Qual a importância do artesanato para você?
Gosto muito de fazer artesanato. Relembro com muito carinho, com muita saudade. Ao mesmo tempo, lembro das dificuldades, porque foi um período muito difícil.
Um sonho que eu tenho é montar um grupo que queira realmente fazer esses trabalhos de uma forma mais profissional. Porque eles trazem muitos benefícios, não só como renda, mas pela possibilidade de criar, sair da rotina, se entregar na criação e depois ver a peça pronta. Cada peça é única.
Você poderia nos contar algo marcante que aconteceu na sua vida envolvendo o artesanato?
Há uns 25 anos, a gente tinha uma associação de mulheres lá no Mato Dentro que fazia esse tipo de trabalho em palha. Com isso, cheguei a dar aula de artesanato em vários lugares, ensinando as pessoas a fazerem bonecas e flores de palha, prestava serviço para a Emater.
E durante muito tempo, a minha fonte de renda foram os artesanatos. Então, eu pude pagar muitas parcelas da minha faculdade e, também, tive a oportunidade de ensinar. Como a Emater me convidava para dar aulas sobre o meu trabalho, conheci várias cidades do interior de Minas e isso foi muito bacana!
Conte-nos um pouco mais sobre essa Associação.
A Associação não existe mais. Mas, na época, chegavam artesanatos de vários lugares: Lagoa Dourada, Desterro [de Entre Rios], Jeceaba...
A gente tinha um grupo que formava parte de uma Associação Regional, chamada CERARTE - Centro Regional de Artesanato, em Entre Rios. Lá havia uma loja em que deixavam as mulheres exporem e venderem os artesanatos de Mato Dentro, Machados e outras regiões de Jeceaba.
O CERARTE surge em 1984, em 1989 passa a funcionar no prédio que hoje é o Centro Cultural Ministro João Ribeiro, e seu declínio foi em meados dos anos 90.*
*Referência: Patrimônio Histórico de Entre Rios de Minas - Tombado e Registrado. Autor: João Marcos El Yark.
O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).
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