Natural de Jeceaba/MG, Sandra Rocha viveu a infância em Barra do Santo Antônio e voltou a viver no município jeceabense aos 15 anos. Apesar de possuir formação como designer de moda, se considera como artesã atualmente: “Me considero artesã porque eu faço de tudo: artesanato, crochê, bordado livre, ponto cruz, crivo e costura criativa”.
Saiba mais sobre a trajetória de Sandra a partir da entrevista realizada pela arte-educadora Ana Malta, que coordena o Projeto Arte Por Toda Parte Jeceaba. Leia abaixo!
Como começou o seu interesse pelo artesanato, pelo trabalho manual?
Comecei com o crochê ainda muito pequena, quando tinha 9 anos de idade. Minha tia foi à passeio para a minha casa e com ela aprendi o básico do crochê: a correntinha. Eu era doida para aprender mais e mais, só que minha tia não tinha tempo para ensinar.
Então, pedi à Dona Telka que me ensinasse, porque ela tinha um domínio muito grande dessa arte. Sou muito grata por ter aprendido muitas coisas do crochê com ela. Fiz aulas durante 15 dias e, a partir de então, comecei a me dedicar cada vez mais ao crochê.
Meus primeiros trabalhos foram com panos de prato. Ainda bem novinha, eu fazia bicos de crochê e vendia panos de prato bem baratinhos. Na época, eu não tinha noção do valor do trabalho manual.
Com o passar do tempo, fiz muitas coisas de cozinha, como conjuntos de banheiro e coisas para casa. Depois disso, fiz um cursinho de fuxico e tapeçaria em Jeceaba, me apaixonei e pensei: “Meu deus, é com isso que eu quero mexer!”.
Sandra comentou que ainda na adolescência conseguiu um emprego relacionado à construção civil na empresa VSB. Mas como esta não era sua área de interesse, partiu de Jeceaba em busca de formação para atuar com o que gostava. Então, se mudou para Belo Horizonte e fez faculdade de Moda. No princípio, não recebeu incentivo da família, mas agora que trabalha com costura criativa e artesanato, percebe um olhar positivo pelas suas produções. Ela diz ainda que a sua irmã mais nova tem interesse pelo crochê.
Conte um pouco sobre o tempo em que fez faculdade e sobre a vivência de trabalho em Belo Horizonte.
Durante as aulas, sempre ajudei muito as professoras na parte prática com os outros alunos. Nos trabalhos que envolviam o crochê e os bordados, fazia um trabalho de monitora.
Na faculdade, além do trabalho manual, você tem uma formação administrativa para o mercado — relacionada à modelagem, ao entendimento da utilização dos tecidos e tinturas naturais. Mas algo que me frustrou muito foi não ter aprendido a costurar. Havia uma máquina para cada grupo de 10 alunos, daí nunca chegava a minha vez…
Sandra nos disse também que, quando morava em BH, conseguiu um emprego em uma fábrica de modas. Apesar de adorar este trabalho, ela se sentia muito cansada. Na fábrica, havia uma hora para começar, mas não para terminar. Então, quando finalizou a sua formação na faculdade, voltou para Jeceaba e passou a trabalhar com artesanato. Para aprender o básico de costura, Sandra buscou a Associação Amariaz, onde aprendeu a costurar. Ela ressalta a importância da artesã Zezeca Matos, integrante da Associação, a quem chama carinhosamente de Vó.
Como foi e está sendo desenvolvido o seu trabalho em Jeceaba?
De volta a Jeceaba, comecei a fazer mais panos de prato e muito crochê. No início, eu levava os panos para outras costureiras fazerem as bainhas, mas depois que aprendi, comecei a fazer toda a produção sozinha. Passei a receber muitas encomendas de ponto-cruz, então corri atrás e aprendi com vídeos da internet. Nessa época, o que eu mais queria era produzir e vender panos de prato. Vendia inclusive para fora de Jeceaba.
Depois, juntei um dinheirinho e comprei a minha própria máquina de costura para costurar em casa. Quando as pessoas souberam que eu estava costurando, chegaram as encomendas. A primeira foi de touquinhas culinárias, o que me deixou muito apreensiva na época, mas acabou dando super certo. As encomendas foram aumentando e até hoje a touquinha é um dos produtos de maior saída.
Com o passar do tempo, apareceram encomendas de toalhinha para bebês com ponto cruz, roupas de crochê e vestidinho infantil. Até que eu comecei a me interessar mais pela produção e confecção de roupas de bebê e comecei a produzir kits de bebês. E quando minha sobrinha, Laura, nasceu, ela se tornou a minha maior fonte de inspiração.
Você tem um ateliê onde produz seus trabalhos?
Minha produção é feita na minha casa, mais especificamente no meu quarto, lá fica sempre uma bagunça "organizada''. Minha família às vezes implica, mas estou sempre produzindo as encomendas. Prezo muito pela qualidade e durabilidade dos produtos. Por isso, faço questão de trabalhar com os tecidos de algodão, que compro pela internet ou direto nas lojas.
Como você realiza as vendas e a divulgação do seu trabalho?
Minhas vendas acontecem principalmente por indicações de pessoas que já conhecem o meu trabalho. Também recebo encomendas, faço vendas pela internet e envio pelo correio. Mas para mim, o que mais funciona é a divulgação boca a boca. As pessoas que procuram o meu trabalho ficam satisfeitas com o resultado e acabam indicando para outras pessoas. Nas comunidades rurais, a maioria das pessoas me conhece e me procura por indicação.
Além disso, também uso as redes sociais para divulgar minhas produções, criei perfis para divulgação no Facebook e no Instagram. Chama-se Feito a Mão - Sandra Ludmilla.
Qual é a rotina do seu trabalho manual?
Gosto de fazer o trabalho com costura criativa pelas manhãs, o bordado à tarde e à noite prefiro me dedicar ao crochê. Sempre faço o meu trabalho com o maior cuidado possível, com muito capricho.
Se a pessoa confia em mim para fazer um trabalho, eu tenho que fazê-lo com o maior empenho e perfeição que eu puder. Ainda mais que recebo encomendas de peças para momentos muito especiais, como o nascimento e o batizado de uma criança.
Durante a sua trajetória de artesã, existem momentos e desafios que marcaram muito sua carreira profissional e que você gostaria de contar?
Teve uma vez que fiz um vestido para um batizado que mudou de data várias vezes. Sem uma data certa para a entrega, mexi muito no vestido. Por ser muito perfeccionista em seus trabalhos, comecei a pensar que o produto final não estava bom, por mais que as pessoas ao seu redor me dissessem o contrário.
Quando finalmente chegou a data do batizado e tive que apresentar a peça, estava muito insegura com o resultado, estava super ansiosa e insegura. Então, lavei a peça com todo o cuidado, mas nem conseguia enxergar que o vestido estava branco. A pessoa que me encomendou ficou super satisfeita com o produto, mas eu criei um bloqueio.
Por um tempo, trabalhar com peças brancas foi um verdadeiro desafio. Graças a Deus, isso foi mudando e se transformando aos poucos, até mesmo a partir do que as pessoas começaram a dizer sobre o quanto era super bem feito o meu trabalho.
Quais são as suas vontades e projetos para o futuro na profissão?
Sonho em ter a oportunidade de ver meu trabalho em uma grande revista de moda. Sonho com o dia em que o meu trabalho será mais conhecido e reconhecido em todos os lugares. Tenho vontade de abrir uma loja física onde eu possa vender a minha própria produção, seja no Brasil ou até mesmo no exterior.
Em termos coletivos, desejo que as pessoas passem a valorizar mais o artesanato local, o trabalho feito à mão e a cultura que é produzida em Jeceaba. Acredito que aqui em Jeceaba existam muitos profissionais com trabalho artesanal de qualidade, e que precisam de oportunidade para mostrar a sua produção e serem reconhecidas.
Também penso que a gestão e os fazedores de cultura precisam olhar e valorizar mais os trabalhos das pessoas locais, trabalhando a valorização e o investimento no artesanato e na agricultura familiar.
Faça encomendas para Sandra através do telefone: (31) 998947127.
O Conto de todos os cantos sobre Jeceaba é patrocinado pela Vallourec via Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Jeceaba (CDMCA).
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