Formada em Entre Rios de Minas/MG, em 1999, a Seresta Rios ao Luar é composta por grandes figuras da cidade e possui um reconhecimento importante na região. Atualmente, o corpo do grupo possui oito integrantes, porém mais de 20 nomes passaram pela história da banda.
Com um repertório variado e que agrada diversos gostos, a Seresta já esteve em bares, palcos e diversas festividades de Minas Gerais. Com dois CDs lançados e paixão pelo que fazem, eles realizam apresentações que deixam o público encantado e ansioso por mais shows.
Leia a entrevista realizada pela arte-educadora do Projeto Arte Por Toda Parte de Entre Rios, Elis Ferreira, com os integrantes Nelson Resende e Wondel Gonçalves para conhecer um pouco mais acerca da trajetória da banda. Confira abaixo!
Contem a história de como surgiu a Seresta Rios ao Luar.
Nelson: Fui funcionário da Cooperativa Agropecuária de Entre Rios (Capermil), onde trabalhei por 36 anos. Lá a turma era meio romântica, a gente gostava muito de cantar e falar poesias. Então, a gente começou da seguinte forma: nas sextas-feiras, a gente pedia ao Magno para levar o violão porque quando subíamos do serviço, às 16h, passávamos num barzinho e levávamos os colegas.
Quando já estávamos fazendo isso há mais tempo, achamos um barzinho — que é do Tiquito, violonista da Seresta hoje em dia —, onde começamos a tocar. Mas o espaço era tão pequeno que mal cabia o nosso grupo e o pessoal ficava de fora!
Depois, o Tiquito foi para um lugar maior, onde seguimos tocando, e lá enchia de gente. De repente, as pessoas que frequentavam as apresentações começaram a nos chamar para tocar em outras cidades.
Com isso, já cantamos no Palácio das Artes, na escadaria da Prefeitura de Belo Horizonte, na feira de artesanato do Pátio Savassi… Além disso, também tocamos em aniversários, festas e festividades religiosas de toda a região.
O interessante é que não tínhamos intenção nenhuma de fazer o clube de seresta, foi uma coisa espontânea e hoje somos oito integrantes.
Você gostaria de falar mais sobre a formação do grupo, Wondel?
Wondel: Sim! A Seresta foi fundada em março de 1999 a partir da iniciativa dos funcionários da Cooperativa, sendo Nelson o fundador principal. Nós já tivemos entre 22 e 24 integrantes no decorrer do tempo. Atualmente nós somos oito, pois o Ataíde faleceu.
Além disso, como o Nelson comentou, a Seresta cresceu e passou a ser o que é hoje de forma espontânea. Com o tempo, quando começaram as viagens para tocar em outros lugares, passamos a dar mais valor para o grupo e compreender a dimensão disso tudo.
Com isso, a Seresta começou a ir para Santana dos Montes, tocar na casa do Sr. Medina, que é argentino e dono de uma pousada. Também nos apresentamos em Cristiano Otoni, em Belo Horizonte, na Feira da Estrada Real e, inclusive, na considerada “capital brasileira da seresta”: Conservatória/RJ. Foi muito bacana!
Já sobre as festividades religiosas, nós já estivemos presentes em diversas: em Porto Alegre, Ouro Branco e, praticamente todos os anos, na Festa de Nossa Sra. das Brotas, padroeira de Entre Rios.
A partir dessa dinâmica e das viagens, produzimos dois CDs. O primeiro se chama “Jovens senhores jovens”, lançado em 2008, e o segundo é o “Meus tempos de criança”, de 2020.
De onde surgiu o nome da banda?
Wondel: Foi feita uma enquete dentro do bar do Tiquito. O nome “Rios ao Luar” foi escolhido devido ao nome da cidade, Entre Rios de Minas, e ao luar pelo estilo da Seresta. Partimos dessa premissa, mas ninguém nos chama de “Rios ao Luar”, só de seresta. Isso porque somos o único grupo em formação e que atua assim aqui.
E quem são os integrantes da formação atual?
Wondel: Hoje em dia, a Seresta é formada por oito integrantes. O Luiz Beraldo Chaves como saxofonista, o Tuca Boelsums que é compositor e cantor, o Nelson, eu, o Tiquito como violonista e cantor, o Luiz Azevedo, o Ricardo Gonçalves da Silva (ou Cadico) com o cavaquinho e a Sandra Fagundes, que também canta com a gente.
Vocês ensaiam em algum lugar?
Nelson: A gente praticamente não ensaia. A gente ensaia apresentando…
Wondel: No início da formação, nós ensaiávamos. De 1999 até 2004, a Seresta adquiriu o repertório que ela levava em todos os shows por onde esteve. E, podemos dizer que, na espinha dorsal mesmo de harmonia, acorde e arranjo, está o Tuca. Foi ele quem organizou questões de ritmo, da divisão dos vocais, dos naipes, da percussão, dos instrumentos, da performance e da dimensão dos instrumentos no show.
Na verdade, o Tuca é formado em História, mas ele é artista nato. Já fez trabalhos com Chico Lobo, Renato Teixeira e Renato Andrade. E já participou de mais de setenta e tantos festivais Brasil afora. Atualmente, para a cidade, ele é o ponto de referência porque aonde ele vai fazer apresentação, leva o nome de Entre Rios.
Se a pessoa não tem dinheiro para pagar nos tocamos de graça, nós é igual sabiá, canta por prazer.
Qual o repertório do grupo?
Wondel: Noel Rosa, Ataulfo Alves, Nelson Gonçalves, Jair Amorim, Evaldo Gouveia, Chiquinha Gonzaga, Cartola, Tom Jobim, Paulinho da Viola... Na realidade, a gente tem valsas, boleros, sambas-canção e vários ritmos, primando e fazendo um resgate da MPB e dessas músicas mais antigas.
Muitas pessoas entendem que a seresta é só valsa, guarania, choro, samba-canção e bolero, mas a música regional de Luiz Gonzaga e de Vital Farias também faz parte do escopo da cultura popular. Então, a Seresta prima por Luiz Gonzaga, Genival Lacerda e Nelson Gonçalves, por exemplo, mas também pela música portenha e espanhola. Além disso, tocamos até rock e samba rock, clássicos de Gilberto Gil e Jair Rodrigues que fizeram parte da Tropicália.
É importante falar que há uma coisa marcante: o Nelson prefere canções mais do romantismo, enquanto eu gosto do romantismo e regional ao mesmo tempo. Já o Tuca tem a espinha dorsal do romantismo, do sentimental e do canto rural, que é o trabalho dele. O Cadico tem a parte de festival e o Tiquito gosta das músicas ligadas à Jovem Guarda. Então, é uma salada de frutas…
Nelson: ...que agrada.
Houve alguma situação engraçada ou inusitada que vocês vivenciaram com a Seresta, Nelson?
Nelson: Nós já nos apresentamos no cemitério! Tínhamos uma fã chamada Dona Olga, que era diretora do Colégio Estadual e estava sempre conosco. Um dia, ela falou para a gente: “Ó, no dia que eu morrer, quero que vocês cantem no meu enterro”. E ainda escolheu as músicas: uma era “Baile da saudade” e a outra, “De mais ninguém”. Então, nós tivemos que cumprir com a nossa palavra, né? Foi estranho, mas nós estávamos cumprindo um desejo da defunta.
Além dessa situação, você se lembra de alguma outra, Wondel?
Wondel: Teve uma outra situação muito engraçada! O Magno trabalhava na Prefeitura de Entre Rios e, no dia do lançamento do nosso primeiro CD, uma das pessoas que acompanhavam a Seresta comprou uma certa quantidade e levou para Belo Horizonte. Esse moço trabalhava com um cara chamado Adolfo Araújo, que era irmão do arcebispo de Belo Horizonte, Dom Serafim. O Dom Serafim sempre gostou de seresta e a gente não sabia. Então, o que aconteceu?
O Adolfo foi à casa do irmão e colocou o nosso CD para tocar. O Dom Serafim falou: “Que preciosidade este CD! Onde você conseguiu ele?”. Depois disso, ele levou o CD para a Itália e distribuiu no Vaticano na época. Levou até para o Papa! Passado um tempo, a irmã dele apareceu na Prefeitura pedindo mais, só que a gente só tinha feito 1.000 cópias e elas se esgotaram em menos de um ano. Tanto é que no dia do lançamento que nós fizemos, a turma ficou com a mão toda doendo de tanto autografar CD...
Nelson: Tem um outro fato muito interessante e até meio cômico que aconteceu conosco. Uma vez, fomos tocar em Santa Cruz de Minas, mas chegando lá vimos que a cidade tava numa chuva danada. Eram umas 19h, a chuva não parava e nós lá no palco. Então, falamos com a moça que nos contratou: “Olha, não tem jeito de tocar. Como que vai ser?” e ela respondeu “Se vocês não tocarem, a gente não paga”. Dito isto, nós ficamos cantando de 19h às 22h a música “Chove, chuva”. (risos)
Tem interesse em adquirir um CD do grupo Seresta Rios ao Luar?
Entre em contato com Wondel através do número: (31) 99779-8017.
O Conto de todos os cantos sobre Entre Rios de Minas é patrocinado pela Vallourec via Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Entre Rios e Lei de Incentivo à Cultura.
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